-discrição anda ao lado da coragem. Não muito tempo atrás este era o mantra ao se deparar com um supercarro de 500 cv e motor entre-eixos, com preço na casa do milhão. O Audi R8 – refinado, ágil, espaçoso, rápido sem fazer força – mudou tudo isso. Mas hoje o nervosismo volta à tona.
Não porque estamos dirigindo o R8 GT Spyder – o mais leve e radical R8 de todos os tempos – mas porque o conduzimos em Le Mans, horas depois da bandeirada de chegada da mítica prova de 24 horas de duração, vencida pelo único Audi R18 que permaneceu na pista, com apenas 14 s de vantagem sobre todos os favoritos e franceses Peugeot 908. Será que devo andar com este carro e seu emblema de argolas na grade, com a capota arriada, logo depois da vitória na classe LMP1? Sim devo, mesmo que esteja chovendo.
Demora 19 segundos para baixar a capota, tempo em que novas sensações invadem o ambiente, o cheiro, o vento, o ar-condicionado acelerando para compensar o aumento da temperatura. Com os vidros levantados e os defletores traseiros no lugar, você se sente protegido, exceto quando pisa fundo no acelerador para fazer uma curva ou percorrer uma rotatória e percebe um spray de água que invade o cockpit. No momento, a melhor opção é capota fechada, vidro traseiro entreaberto, assim dá para admirar a verdadeira orquestra que é este V10 sem se molhar.
motor V10 de 5.2 l é um monumento atrás de mim. Traz o melhor da engenharia italiana e alemã. Nascido em Saint´Agata na Lamborghini, o 40 válvulas foi terminado em Ingolstadt, na Audi, onde alcançou os 552 cv, 35 cv a mais que no R8 normal, mas 10 cv a menos que num Lambo Performante. Seus torques são idênticos: 55 kgfm. Porém, graças a seu câmbio S-tronic de seis marchas com relações mais curtas, o Audi corta 1/10 s no tempo necessário para ir de 0 a 100 km/h, anotando 3,8 s em relação ao Lambo. Mas na máxima, o Lamborghini chega a 326 km/h contra 318 km/h do Audi.
O V10 ronca mais forte, como nunca ouvimos. Em marcha lenta ouve-se um ruído metálico, interrompido de vez em quando por uma golfada da bomba de óleo, um chiado da bomba d´água e pela circulação do sistema de cárter seco. Com um pouco de aceleração, os ruídos se intensificam e com aceleração total acontece um misto de fogos de artifício regidos por duas borboletas nos escapamentos: rosnando a 4.000 rpm e gritando a 6.500 rpm. Os ruídos de admissão e escape variam entre o prelúdio da ópera Nabucco de Verdi e do ‘gran finale’ do Bolero de Ravel em volume máximo.
O ‘pacote’ GT rebaixou o carro em 10 mm, ajudando a aerodinâmica em alta velocidade, mais cambagem nas quatro rodas ajuda no contorno das curvas, assim como os pneus 305/30 opcionais na traseira. Em condução normal, o diferencial viscoso dianteiro aceita apenas 15% do torque máximo. Mesmo com as rodas traseiras fazendo fumaça, a divisão de torque nunca passa de 30:70 (frente e traseira).
Na entrada da curva ele demonstra tendência ao subesterço, quando o sistema atua com precisão cirúrgica, invertendo este comportamento na saída da curva. A suspensão permanece firme durante todo o contorno. As trocas de marcha são rápidas e suaves. Os amortecedores, direção, acelerador e câmbio trabalham em relaxada harmonia enquanto você não seleciona o programa ‘Sport’. Não tem jeito, o R8 GT Spyder não tem o mesmo ronco dos esportivos mais antigos. Mas nos tempos de hoje, onde o controle é muito maior e grandes motores trabalham com chassis rígidos como rocha, a fórmula encontrada para o Audi GT é muito mais amigável do que a do Lamborghini, por exemplo.
Com vários aparatos eletrônicos desligados você pode fazer o carro derrapar, escorregar em 1ª e 2ª marchas. É divertido e tem som maravilhoso, uma combinação de Pirelli P Zero e um motor V10 trabalhando nos 8.700 rpm. A 8.500 rpm ele entra na faixa do limitador e a segunda marcha entra como um soco, pedindo pela 3ª. O interessante é que o carro faz tudo isso sem perder o vigor, mesmo com o câmbio em automático, apesar de que as borboletas criam uma atmosfera muito mais envolvente e o motor passa a ser um músico sob sua regência.
Experimento um dos dez exemplares de pré-produção do GT Spyder, todos com o mesmo número de chassi: 000 de 333 e todos com o mesmo destino, a destruição. Por que é necessário construir um segundo grupo de ‘mulas’ se o R8 GT coupé foi homologado no ano passado? “Porque tanto o modelo fechado quanto o conversível são muito mais diferentes do que parecem”, explica o engenheiro sênior do projeto, Andreas Graf. “Tivemos muito trabalho extra nos painéis da carroceria, nas novas calibragens das suspensões e na nova aerodinâmica. Cortar 85 kg não apenas afeta a estrutura e o comportamento, como também o ruído da estrada e do vento. A nova aleta aerodinâmica dianteira, a chapa inferior bem como o difusor traseiro aumentados afetam diretamente a estabilidade direcional. Por isso, levamos esses carros para o traçado Nordschleife de Nürburgring para nos certificarmos que funcionavam na prática, como o coupé”.
O interior do GT é um misto de bela e fera. Fera nos bancos revestidos em Alcantara, agressivos, como o volante ovalado, os instrumentos em preto e branco, a alavanca de mudanças em alumínio e a cobertura do painel em fibra de carbono. Bela, pois traz um GPS estilo Audi A4, conexão com iPod, telefone com microfone embutido no cinto de segurança e sete alto-falantes, ou, sistema de som opcional Bang & Olufsen. Não se pode esquecer que R$ 450 mil (na Europa, versão top) é muito dinheiro por tecnologia de redução de peso e um bom motor, mas R$ 110 mil a mais em relação ao V10 normal não é muito, se adicionarmos à conta o câmbio, freios de cerâmica, lindas rodas, bancos e muito mais.
Dirigi o GT noite adentro e quando a chuva parou, os faróis de LED transformaram estradas em passarelas iluminadas, prontas para uma última sessão de diversão pura. Desempenho? Emocionante, graças aos 55 kgfm de torque e a capacidade de chegar aos 200 km/h em apenas 11,5 s. Estabilidade? Enorme, com aderência e tração sensacionais no seco e inacreditável no molhado.
AUDI R8 GT SPYDER
Preço: R$ 375 mil (est. na Europa)
À venda: Reservas abertas
Motor: V10 5.204 cc 40V, 552 cv, @ 8.000 rpm, 55 kgfm @ 6.500 rpm
Transmissão: Seis marchas semiautomática, tração integral
Peso/material: 1.640 kg/alumínio e fibra de carbono
Compr./larg./alt.: 4.434/1.904/1.234 mm
Desempenho: 0 a 100 km/h em 3,8 s, 317 km/h, 8 km/l, CO2 n/a
Texto original de George Kacher - Fotos de Greg Pajo
Fonte: carmagazine
Disponível no(a):http://carmagazine.uol.com.br/


No comments:
Post a Comment